quarta-feira, 7 de maio de 2008

Um alerta

Há, no Universo Marvel (universo onde se passam as aventuras em quadrinhos dos personagens da Marvel Comics), no coração do Pólo Norte, um lugar chamado de Terra Selvagem, onde – sabe-se lá como – o gelo preservou e deixou imaculado pelo Homem toda uma extensão de floresta tropical nos moldes jurássicos. Isso mesmo, com homens-das-cavernas, dinossauros e outras feras pré-históricas.

Pois bem. Numa história do Homem-Aranha que eu li há muito tempo atrás, meu querido herói enfrentava uma ameaça incomum. Uma certa empresa, controlada pelos piores canalhas possíveis, estava aumentando artificialmente as temperaturas do Ártico com fins de derreter as geleiras e, dessa maneira, inundar a Terra Selvagem para poder lucrar com a exploração petrolífera que se iniciaria minutos após a inundação. Claro, no fim das contas, o nosso amigo aracnídeo, com o auxílio de tribos nativas e outros heróis, pôs fim aos planos maquiavélicos da corja de empresários vilanescos e tanto o Pólo Norte quanto a Terra Selvagem puderam respirar em paz.

Tudo isto contado acima poderia passar simplesmente por encheção de saco bloguística (que neologismo absurdo, hein?) se não fosse pela incrível capacidade da vida de, muitas das vezes, imitar a arte. Nesse caso, não nos presenteando com uma biodiversidade pré-histórica e inexplicável, mas sim com o derretimento das geleiras árticas como uma maneira de lucrar com a exploração de suas riquezas minerais.

Não, não é invenção minha, por mais inescrupuloso que possa parecer. Coloque no google a expressão “exploração do ártico” e você verá a enxurrada de páginas que irão aparecer denunciando essa perfidez, essa desumanidade hedionda, esse descaso criminoso em relação ao nosso planeta. Um deles, o Rastro de Carbono, adverte que “ao invés de se preocuparem em conter as emissões de gases do efeito estufa em suas nações, os governantes estão mais interessados nos lucros que o aquecimento global pode trazer”, um declaração que faz brotar, pelo menos em mim, uma insatisfação e uma revolta tão profunda e pungente que não pode ser descrita através de palavras.

O teor do que está acontecendo é mais ou menos o seguinte: o recuo das geleiras árticas devido ao aquecimento global está tornando possível que os recursos naturais da região norte-polar, que permaneceram todos estes anos à margem da destruição ambiental provocada pela industrialização do mundo capitalista por conta do clima inóspito, possam finalmente ser explorados pelos gananciosos governos dos países que as circundam – daí a preocupação do site citado acima. Ao invés de se preocuparem com os males indiscutíveis causados pelo efeito estufa e dedicarem seus esforços para conter seu avanço, eles estão muito mais interessados nas enormes possibilidades econômicas que se abrirão caso a região possa vir a ser explorada, ansiosos em fazer dinheiro em detrimento do meio ambiente. E essa ânsia em pôr as mãos no “ouro ártico” desencadeou, ainda por cima, uma acirrada disputa pelo controle das áreas exploráveis, onde cada um reclama para si uma parte maior do bolo: a Noruega deu a largada, iniciando as atividades da primeira instalação de exploração e processamento de gás natural e petróleo construída no Ártico, fora do Alasca; a Rússia, ainda tímida, “apenas” aprofundou o acirramento das discussões numa simbólica declaração de soberania, ao fincar uma bandeira sua no Pólo Norte; os Estados Unidos, logo atrás, já cogitam a construção de uma base operacional na região, para controlar a já expressiva frota naval que atravessa o oceano ártico em virtude do esvaecimento das geleiras oceânicas.

Esquecem-se estas inconseqüentes e obtusas nações que o Ártico pertence, primeira e unicamente, às espécies que lá vivem e à biodiversidade da região, e não a interesseiros e abjetos invasores vizinhos; que de nada vale a busca desenfreada por riquezas se isso for feito às custas da saúde da Terra, pois sem ela não temos e não somos nada; e que brincar levianamente com a Natureza nunca deixou de ser punido de maneira arrasadora e catastrófica. Pelo bem do nosso planeta – e, conseqüentemente, também nosso – , é preciso que façamos alguma coisa contra este tipo de atitude egoísta o quanto antes, já que não temos homens-aranhas ou quaisquer outros super-heróis para lutar contra estes esquivos inimigos e salvar o mundo de suas mesquinhas intenções em nosso lugar, ainda em tempo de evitar que este precedente injustificável e ignominioso possa servir de exemplo para outros estúpidos ataques ao meio-ambiente em prol de simples lucro, e que vêm tornando a degradação ambiental algo cada vez mais irreversível.

As futuras gerações, sem dúvida, agradeceriam.

*para maiores informações:
A exploração do Ártico;
O Ártico em perigo;
Ouro sob o gelo.

5 comentários:

Rômulo Pacheco disse...

Super-heróis nem sempre são fortes, talvez no nosso mundo eles sejam inteligentes. Meu caro, só por escrever um texto como esse, você já devia ser considerado um super-herói!

gostei de como associou os gloriosos quadrinhos da marvel a o que você queria falar :D

Seane Melo, Secoelho disse...

Mon amie, a coisa da preta!
Eu desconhecia completamente muitas das coisas que você citou no seu belo texto (inclusive a historinha do homem-aranha).
Mais, após esta leitura, não posso deixar de me sentir revoltada.

Como se não bastasse todos os prejuízos provocados na fauna e na flora pelo aquecimento global, ainda surgem uns camaras querendo tirar proveito disso. O mundo tá perdido.

Anônimo disse...

Se as coisas não fossem assim provavelmente eu me espantaria, e é uma merda ter essa sensação. Não que eu seja uma pessoa totalmente desacreditada na raça humana, mas geralmente os humanos me enojam mais que baratas, que não fazem nada aliás, mas gostamos de acreditar que dão uma sacaneada com nossa cara. (Ainda estou na vibe do meu próprio post, desculpe huahuahuahua).
O mais impressionante pra mim é essa sede de auto-destruição que os humanos têm e como eles arranjam argumentos para aceitarem seus atos medonhos. Provavelmente esses caras já contrataram estudos de "ambientalistas" para terem cartas na manga, além do argumento de que estão apenas usando o que a natureza tem a oferecer. "Já que tá tudo derretendo mesmo, vamos ver o lado positivo: $$$$!"
Daí sabe o que vai acontecer? Al Gore ('ALL' GORE!!!) vai montar uns palquinhos ao redor do mundo com umas bandas pras pessoas se sentirem lutando por uma boa causa enquanto enchem o tolé de breja e dizem PAZ E AMOR, WOODSTOCK FOREVER, VAMOS DIMINUIR O AQUECIMENTO GLOBAL, e depois de chegarem em casa com a tchurma e continuarem a festinha passam um aerosol pra tirar o cheiro de maconha para a mamãe não descobrir. Se estou sendo exagerada? Sim. Mas foi só pra explanar o conceito de que toda grande mudança começa com os pequenos atos. Pequenos atos esses sendo individuais, mas quando todo mundo tá fazendo... não é bem pequeno, tanto pra bem quanto pra mal.
Okay. Acho que já chega. Beijão, pobre gato dentro da caixa nem morto, nem vivo.

Anônimo disse...

Ah, esqueci de deixar um link aqui de uma propaganda do greenpeace que gosto bastante da sacada do final e que teu post me fez lembrar e fui catar pra assistir de novo.
http://br.youtube.com/watch?v=tw0W12ZtzoQ

Camila Chaves disse...

Diria que falar de quadrinhos e super-heróis no início do texto foi realmente uma forma muito boa de abordar esta situação que nos parece irreal e verdadeiramente catastrófica. Tinha conhecimento de algumas coisas ou poderia prever que isso um dia fosse acontecer, por conta da ganância do homem. Mas nem de longe imaginava que a situação já estivesse avançada desta forma.

Também me revolto e, sabe o que as pessoas dizem daqueles que despertam para esta problemática como nós? Somos loucos. É, deve ser realmente uma grande loucura se preocupar com o meio ambiente e com a vida que com os lucros e os bens por eles conseguidos capazes de me dar um “bem-estar-social” dentro de uma sociedade capitalista e pautada no consumo.

Fico chateada e, mesmo gostando muito de crianças e desde cedo já sonhando em ser mãe, fico me perguntando se isso será realmente possível. Terei que fazer uma decisão que é no mínimo complicada. Me questiono se valeria a pena ter filhos que sofreriam sérios problemas de saúde e não teriam condições de uma vida saudável. Não sei se esse sofrimento valeria à pena.

Saindo um pouco do gelo (com o perdão da expressão) e indo para os campos e para uma situação bem brasileira, temos a mesma exploração disfarçada por trás de um discurso de desenvolvimento econômico: o biodiesel. Muito bacana. Muito bacana. Um combustível que não polui ou polui bem menos, tecnologia 100% brasileira. Realmente muito bacana. Os campos todos passarão a plantar cana-de-açúcar. Nada de feijão, arroz, verduras, de hoje em diante plantaremos somente cana-de-açúcar, afinal, é o que dar dinheiro, não?

É... e se a gente desperta para isso e tenta fazer alguma coisa para mudar, “Lá vem eles novamente, os loucos. Têm inveja do nosso desenvolvimento.” É uma droga. Esse mundo cinza às vezes me cansa. Muito bom, senhor gato. rs. Foi bom poder colocar um pouco da minha raiva em caracteres.