segunda-feira, 18 de dezembro de 2006

Dos começos

Durante muito tempo, os matemáticos (e, com isso, as pessoas em geral) consideraram o número '1' como o princípio dos números. Nada mais óbvio, portanto, presumir que o primeiro dos números deveria ser algo concreto, palpável, a primeira quantidade passível de existir na realidade. Uma idéia que reflete algo do pensamento dessas épocas, em que se acreditava que o início de alguma coisa era espontâneo e dependia unicamente de si próprio, tal o próprio mundo em que vivemos.

Depois de um certo tempo, apareceu um hindu desconhecido aí que disse que não, nada disso! Os números não começavam pelo '1', que tolice! Eles originam-se no zero, claro. Algo concreto não pode ter início em si mesmo, deve estar intimamente ligado a algo abstrato, vazio. Antes de uma coisa existir concretamente, deve haver algo anterior, um vazio, um nada. Só a partir desse "vácuo" seria possível criar-se algo. O zero - criado então pelo tal hindu - passou então a ser visto como a nova origem dos números, assim como Deus seria a origem de todas as coisas ou, o Big Bang, a origem do Cosmos.

Com o passar de mais algumas décadas, quando parecia que nada mais mudaria no louco mundo da matemática, boooom!, surgiu a noção dos números negativos. E esses novos números também tinham origem no zero, porém, pro lado contrário! Eles cresciam opostamente aos outros existentes (os positivos) e, inacreditavelmente, também eram infinitos. Ou seja: os números não tinham começo! Eles eram infinitos para ambos os lados! O zero nada mais era que um marco, um ponto neutro, um símbolo para a "mudança de atitude" dos números. Ainda entendido como a origem destes, mas apenas no sentido de continuar a orientar os cálculos, visto que ele representa o vazio, conceito inapagável da matemática. Entretanto, a visão dele como o primeiro dos números caiu por água abaixo, inclusive a própria crença na existência de um primeiro número entre todos também caiu - visão corroborada pelo aparecimento posterior dos misteriosos e atordoantes números imaginários. Não havia um "começo" de algo. Todas as coisas habitam um eterno "originar-se", um perpétuo renascer, como um ciclo. O Big Bang não era a origem do universo; Deus não poderia ser a origem das coisas, visto que as origens não existem! Tudo é eterno e infinito e, todo começo e todo fim, apenas uma ilusão.

Portanto, este primeiro texto criado neste novo blog (e, por extensão, este novo blog) não é o começo de nada. É apenas uma continuação.

De quê, ainda não se sabe.