quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Há males que vêm para o Mal

(publicado originalmente em 7 de junho de 2005)

O Maranhão, o Maranhão. Um estado que não sabe muito bem se é do Norte ou do Nordeste, dividido entre os dois conceitos e que, no fim, acaba tendo características só suas. Um misto entre Floresta Amazônica e Sertão, sem ser, especificamente, nenhum dos dois. Um estado que, talvez pelo fato de ter esse aspecto único, não tenha referência de como aproveitar seus recursos, desde o potencial turístico até a nossa diversidade extrativista. Mas isto não é desculpa. A grande verdade, que, de tão grande, não se esconde mais, é que este é um estado doente, infectado por uma Praga.

Isso mesmo, 'Praga' com 'P' maiúsculo. Pois ela atende pelo nome de Sarney. José Sarney. O Vírus, a Praga, a Bactéria, que há muito tempo contaminou o corpo político maranhense e se alastrou por todo o seu território, em todos os sentidos. É uma vergonha. É como se fosse a máfia maranhense, com toda a forma e conteúdo de organização criminosa, mas que posa de fundação, com o nobre objetivo de tirar o Maranhão do buraco - enquanto, às escondidas, cava mais e mais. E o cabeça é ele, o caridoso, o letrado, o humilde Sarney. Um homem que sempre lutou pelo desenvolvimento do Maranhão, tanto econômica quanto socialmente, com o propósito de melhorar as condições de vida de toda a população miserável. Não apenas ele, mas todos os seus bravos seguidores, como João Alberto, Edson Lobão e, claro, sua filha, Roseana Sarney.

Seria muito bom crer em toda essa baboseira se não fosse exatamente por isso: é pura baboseira, mentira, enganação das brabas. A oligarquia Sarney dominou o Maranhão com a finalidade de encher os próprios bolsos com dinheiro dos cofres públicos e, principalmente, para manter-se no poder. E não fica só no âmbito estadual. Após seu mandato como presidente da República, Sarney (o original, óbvio, não os genéricos) deixou que se destacassem duas facetas do seu inescrupuloso caráter: um cinismo desmedido, pois se passava por presidente eleito democraticamente pelo voto direto, mas, como todos sabem, elegeu-se pelo Colégio Eleitoral como vice de Tancredo Neves, assumindo a presidência quando da morte deste; e uma sede insaciável de poder, que aumentou com o fim de sua gestão presidencial, levando-o a agarrar-se a todo e qualquer governo federal, despojado de ideologias ou princípios, apenas pelo prazer de mandar, utilizando-se de todos os meios para atingir o seu fim.

E, enquanto isso, o Maranhão se atrasa. Recentemente, saiu uma pesquisa inédita do IBGE, revelando a quantas andam os mais de cinco mil municípios brasileiros. Entre os dados, confirmou-se a alcunha do Maranhão de estado mais miserável: das cem cidades brasileiras mais pobres, oitenta e três são maranhenses. Oitenta e três!!! Inacreditável. Esse é o tipo de informação que não pode passar incólume, que não pode ser ouvida ou lida sem que se tome alguma providência, sem que brote no peito uma espécie de revolta, de insatisfação. É, no mínimo, um assunto que deve incondicionalmente ser noticiado pela imprensa. Mas, então, por que não saiu em nenhum jornal?

A resposta é tão simples quanto triste: porque a imprensa maranhense serve aos interesses da oligarquia Sarney. Os principais meios de comunicação são dele, a TV Mirante e o jornal O Estado do Maranhão, e, mesmo os outros, como o Jornal Pequeno, que se diz "contra a oligarquia dos Sarneys", não passam de fachada, uma farsa, que simplesmente representam uma oposição para que as pessoas tenham a ilusão de ter uma imprensa verdadeiramente imparcial (sem trocadilhos). E, como a "fundação José Sarney" tem, hoje, uma infinidade de "integrantes", incontáveis fatos não são noticiados para atenderem aos interesses de todos esses beneficiados. Casos como o do garoto de 8 anos estuprado no banheiro do São Luís Shopping Center na semana passada ou do rapaz morto coberto de areia no Marafolia 2004 (ah, você não sabia?) não são noticiados porque não são vantajosos para Sarney e sua corja. Sem contar nos escândalos de suspeita de desvio de dinheiro público durante o governo de Roseana Sarney, filha do Dono do Mar(anhão), como o caso Lunus, que a tirou da corrida presidencial ou o caso da Estrada Fantasma entre Paulo Ramos e Arame, onde o Governo do Estado pagou 33 milhões de reais a uma construtora (também ligada à Família) para fazer uma estrada que nunca saiu do papel.

Todas essas revelações são importantíssimas, mas há uma ainda não dita, talvez nem tão gigantesca quanto algumas das já citadas, mas que impressiona pelo seu atrevimento e pela sua incontestável cara-de-pau: durante o governo João Alberto, foi doado (leia-se aqui: entregue de mão beijada) pelo Estado à Fundação da Memória Republicana o Convento das Mercês, um prédio tombado pelo Patrimônio Histórico da Humanidade. Um fato apenas "corriqueiro" se não fosse completamente inconstitucional. A Constituição Brasileira diz claramente que prédios tombados não podem ser vendidos ou doados, pois faz parte da cultura do povo, é propriedade totalmente pública. E, no entanto, foi feito: Sarney prontamente se apossou do que é nosso (pois a tal Fundação da Memória Republicana logo mudou de nome para Fundação José Sarney - discreto, não?), fazendo do prédio um culto a sua própria imagem, incluído, inclusive, um local onde ele futuramente será enterrado. Pior: na época em que o convento foi doado, ele estava passando por uma reforma e, após a doação, ele continuou sendo reformado. Em outras palavras: ele se apossou de um patrimônio histórico do estado e ainda o reformou com dinheiro público! E tudo isso feito às claras, na frente de todos. Tem cabimento?

Um ditado muito difundido nos dias de hoje é aquele que diz que há males que vêm para o bem. Ditame este que expressa algo do tipo: “Bem, aparentemente isto é ruim, mas, no fundo, possibilitará que algo extremamente melhor ocorra”. Entretanto, como Sarney faz questão de nos lembrar, há males que, irremediavelmente, vêm para o mal.