sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Considerações humorístico-políticas

O Brasil é um país muito engraçado. Tanto no sentido de intrigante quanto no sentido mesmo de cômico. Principalmente no sentido cômico. Como diria o Macaco Simão, é o país da piada pronta. E digo mais: além de pronta, a piada já vem devidamente executada pelos humoristas acidentais (ou melhor seria dizer, incidentais) do "causo" em si, que se desdobram em performances memoráveis em todas as cenas e que, além de nos presentearem com tais apresentações, não se incomodam em, muitas das vezes, serem a própria piada em si.

Como o maior exemplo da atualidade, temos o excelentíssimo senhor senador e presidente do Senado em licensa, Renan Calheiros, míster na representação de cordeiro em pele de lobo, de honesto cidadão injustamente perseguido por secretos vilões da democracia brasileira, que insistem em vasculhar tão ético passado em busca de inexistentes canalhices; perfeito na encenação do tragicômico herói envolto em turbutentas emboscadas armadas pelos seus inimigos e que gradativamente vai escapando de todas elas - enquanto mata o espectador de risos.

O senhor senador Renan Calheiros entra agora - ou já entrou há muito tempo, quem sabe - ao inigualável hall de humoristas do qual fazem parte figuras do calibre de Severino Cavalcanti, Roberto Jefferson, Fernando Collor de Melo, Salvatore Cacciola, Paulo Maluf, Celso Pitta - a lista é extensa. Cada qual autor de obras de valor inestimável para a cultura brasileira - e por que não dizer, mundial, universal. Mas há algo em nosso querido Renan que salta aos olhos e que, por mais que outros monstros sagrados do teatro nacional tenham se aproximado, não chegam a fazer frente ao dote principal do humorista Calheiros: o olhar. Olhar que desafia os deuses. Olhar que avista a presa a quilômetros de distância; carregado de algo que, podem até dizer que é cinismo, mas a mim se assemelha mais à serena paz dos justos. Olhar que parece dizer: "Eu posso até ser a piada, mas estou me divertindo mais que todos vocês". Enfim, um olhar como poucos.

Bem-aventurado seja o povo brasileiro, que pode se gabar de ter como conterrâneos Renan Calheiros e outros tantos talentosos artistas, todos, sem dúvida, de nível internacional, com atuações marcantes, fazendo-nos rir como riem mulheres divertidamente estupradas por hilários desconhecidos; ou gargalhar como mendigos que são alegremente humilhados por irreverentes transeuntes; sorrir convulsivamente como sorriem convulsivamente pais que vêem animadamente mulher e filhos passar fome com muita graça; cascar o bico como espirituosas mães que assistem, inertes, à burlesca entrada dos filhos nas mãos do tráfico.

Bom, acho que já deu pra entender.