segunda-feira, 26 de março de 2007

O blog das ignorãças

As palavras são as desimagens.

Ah, se eu pudesse saborear o brilho das estrelas como ouço a música que emana da terra!
Elas têm o cheiro da luz do sol.
Mas nem sei escrever sobre a natureza, apenas me espaço-tempo.
Soletro velhas letras no vazio da robótica gramática.

E tudo isso que não sou, será meu verdadeiro ser?
Todas as minhas relíquias serão vulgares ao meu senhor?
Desvejo as horas e me intransformo no deus das coisas sem sentido.
Será destino ou desatino?

Num instante, tudo que sorrio lembra o gosto de uma tempestade.
Mas, claro, com uma leve pitada de rio antigo na mata.
Eu sou a raíz quadrada do universo.
E como todo universo, sou criação do unipoeta.

Me água saber de tudo isso.


*** *** ***


Me tropeço na saudade de uma lua.
Ah, Manoel de Barros, que fizeste com meus impensamentos?
Qualquer frase que desescrevo é rede pescando teus peixes.
Mas nem aí, mergulho em teus mares.

Sou borboleta atrás do segredo das flores.
Sou pico desfolhando nuvens-chuva entre a criança-atmosfera.
Sou pequenos acordes de luz no compasso de uma carne.

Uma a uma, reconstruo as paredes do abstrato
e o concreto
ri.

Vislumbro uma janela escondida numa jaula.
Me fujo.

(Lá fora, um desotérico mundo.
Tudo, tudo!, é simplesmente folha ao vento.
Fruto da imagem-ação de um deus-humano deus.
Que bela eza)!



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Sei lá o que me deu pra escrever isso aí. Depois que li uns trechinhos do Livro das ignorãças, de Manoel de Barros, não pude deixar de acender em mim uma apagada vela de poeta. Não passou de um plágio mal-feito, eu sei. Mas não pude resistir.

Em todo caso, minha singela homenagem.